O tempo voa como um pássaro livre e nós voámos com ele para lados opostos da vida. Soa-me bem. Andava na busca de um lugar para assentar e apercebi-me que tenho o mundo todo no meu peito. Sou dona das minhas viagens, do meu destino não programado e da minha vida e aprendi que voar em contramão não me leva a lado nenhum.
Pouco me consome, me prende e talvez tenha encontrado uma vida que me deixe com os pés assentes na terra enquanto ao mesmo tempo vagueio em lugares sem nome.
Dizem que quanto mais se sobe, maior é a queda mas eu não tenho medo de voar. Se já caí tantas vezes, a próxima queda será apenas mais uma onde me vou levantar, fazer as malas e fugir sem estar escondida. Enquanto meto camisolas de lã, calças de ganga e até um bikini pergunto-me se devo levar-te também comigo para onde quer que eu vá e não te levo, deixo-te no vazio da minha casa sem mim.
Não gosto do inverno. E as minhas asas levam-me para longe, tão longe que não me lembro onde estava, não me lembro nem do frio nem da chuva.
Tu também voas, eu sei. Fizemos uma viagem sozinhos que terminou com o tempo e nunca mais lá voltámos. Se o mundo é tão grande qual seria o sentido de comprar o bilhete para um local que já sabemos de cor? Eu entendo-te finalmente, também prefiro ser turista e tirar fotografias a uma catedral porque só terei oportunidade de a ver uma única vez do que tomar o pequeno almoço diariamente à frente dela.
As quedas foram tantas e não estavas lá para me ajudares a levar. Obrigada por isso. Os joelhos sararam sem ti e soube melhor do que qualquer das outras vezes onde me beijavas e tratavas das feridas. Uma cura sozinha tem mais valor do que mil acompanhada e quando se dá a provar o valor de uma pessoa cai-se no erro dessa mesma aprender que a vida sabe melhor sem andar de mão dada. Não tenho mãos suficientes para te agarrar, para agarrar o nosso passado ou qualquer pedaço que sobre dele pois numa não tenho um passaporte e na outra uma câmara fotográfica que guarda momentos onde sou feliz sem ti. E só quem tinha medo de viajar sozinha entende o quanto é bom conseguir fazê-lo.
Havia demasiado jet-lag quando comecei, estava tão perdida no tempo por não teres vindo comigo na aventura que é o mundo e a vida mas como tudo, habituei-me á mudança de horas e até me esqueço qual é o teu fuso horário.
Desfiz as malas ontem. E hoje voltei a fazê-las de novo, coloquei roupa para lavar e tirei mais uma memória nossa que habitava em mim. Não sei quando volto a ver-te mas sei que nunca mais te irei sentir pois cada dia a mais é um dia a menos daqueles que passámos juntos e que eu me lembro.
Não tenho ideia alguma que género de roupa e de objetos colocas nas tuas mochilas, que hotéis preferes ou se até estás em casa mas também como poderia saber ou querer saber? Tenho o dia preenchido a ver coisas que nunca vimos, viste ou vi. E sabes que mais? Obrigada por me teres comprado a mala de ida, espero que não leves a mal eu não colocar o que fomos lá. Mas prometo-te que não há espaço.
-mm