sábado, 11 de fevereiro de 2017

Vem, traz-me e eu deixo-te ir


Questiono-me se me carregas às costas,
se o álcool traz o sabor da minha língua aos teus lábios.

Três da manhã e não paro de pensar em quem me leve,
espero que me estejas a agarrar onde quer que estejamos.

Levaste-me e eu fiquei aqui à espera de nós.
Trata bem da minha sanidade, que arrancaste de mim.

Talvez me odeies porque o homicídio ainda atrapalhar a tua vida
e porque, sabes lá como, as tuas mãos ainda estão sujas com o meu sangue.

Conheces novas pessoas e elas pensam que ainda dás a mão ao meu corpo morto.
Por favor, não uses o meu corpo só porque eu não tenho discernimento para dizer não.

Os teus músculos cansam-se e eu peco-te que voltes pois,
assim, eu ter-me-ia de volta e tu voltarias a carregar apenas a tua existência.

A desistência faz com que eu esteja diariamente contigo como se de um castigo se tratasse
e eu, que espero por nós, carrego a tua desistência enquanto, supostamente, já não devia ter vida.

A minha alma despediu-se de mim em lágrimas e eu, que suplicava que me deixasses inteira,
fui deixada numa vida demasiado crua e fria para aguenta-la sem estar inteira.

Pergunto-me onde me manténs na tua vida, se me olhas e arrependes
ou se brindas à minha morte por ainda teres a tua vida.

Há dias que me bates à porta e gritas que eu tenho de aprender a viver sem ti,
meu amor, eu sei mas eu não sei viver sem mim e tu levaste-me sem pedido.

Perdoem-me quem se apaixonou por mim por lhes suplicar que me encontrem,
perdoem-me quem se apaixonou por ti por não te terem virgem e como te conheci.

Passaste da pessoa que me fez perceber o que a vida é
para alguém que me tirou a mesma.

O meu corpo está sem tato e culpa-me por te ter sentido tanto,
suplico-te que voltes e que me dês os sentidos de novo.

As tuas pernas tremem pelo passado que carregas com os teus próprios braços
e eu, mantenho-me na esperança que entendas que sozinhos não temos futuro.

A minha voz falha-me mas se eu pudesse gritar-te-ia,
mostrava-te a minha alma por me teres sufocado quando eu apenas te amava.

Meu amor, meu criminoso sem arrependimentos,
eu arrependo-me de te amar e por isso, entrega-me que eu sem mim sou nada.

Volta e vai mas nesses segundos em que ficas dá-me de novo uma oportunidade,
irei agarra-la e amar-me como me devia ter amado quando decidi perdoar-te diariamente.

Faltou-me o amor próprio necessário para a sobrevivência
e agora apenas me basta o cadáver que sou porque amei.

Estou num mundo em que tens-me mesmo que me tenhas destruído
e que eu estou destruída apenas porque senti demasiado.

Traz-me de volta e eu deixarei que vivas sem que eu ataque a tua consciência
e viverei sem me lembrar de ti para poder escrever-te como escrevo.

Falta-nos um minuto final, para tudo ficar resolvido,
entregar-me-ias e diríamos "Adeus. Amei-te tanto quanto te odiei".

E no meio de tanto odio e amor e de memórias a atacarem-nos,
voltaríamos a ter a oportunidade de sermos felizes.

A felicidade para nós só será possível se vivermos em diferentes cantos do mundo,
sem nos vermos, pois a nossa coexistência só nos destrói pelas tentativas que sempre queremos.

Vem, traz-me e eu deixo-te ir.
Em paz.

-MariaCunhaESilva