terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Desculpe pai


Desculpe pai se sou mulher e não aceito ser como todas aquelas que teve na cama e o fizeram ver que temos de aceitar, vestir roupas que não mostrem a pele para nos darmos ao respeito.
Desculpe pai mas eu dou-me ao respeito, esteja nua, a fazer sexo, com roupa, tapada e virgem. Desculpe pai se sou sexualmente ativa mas não sexualmente vulnerável, se as minhas escolhas de ir para a cama com alguém vão para além de amar tal e como o meu irmão.
Desculpe pai se não me interessa as opiniões das pessoas da rua ou de alguém que me conhece de vista ou até dos meus grandes amigos se estou feliz, aliás não devia importar mais do que a minha felicidade para todos aqueles que dizem que me amam.
Desculpe pai se bebo nas mesmas quantidades que um homem e sou mulher mas nunca achei que haveria necessidade de diferenciar os géneros quando já vi mais homens bebedos do que mulheres.
Desculpe pai mas eu beijo e faço sexo no primeiro encontro e gosto de mim mesma, não sou menos ou mais do que outra mulher mas sempre pensei que concordaria pois sempre achei que só perderia o respeito para mim mesma se fizesse algo para impressionar alguém e pai, se fui para a cama com alguém, esperando um ano ou cinco horas, quero que saiba que foi por escolha própria.
Desculpe pai mas vejo pornografia e sou tão mulher quanto todas aquelas que obviamente também veem mas não dizem com medo de serem julgadas pois em em pleno século XXI a masturbação feminina não é tão aceite como a masculina.
Desculpe pai se público fotografias de bikini e isso não significa que quero fazer sexo mas sim que gosto do meu corpo e da fotografia em si, uma publicação não faz de mim menos ou mais do que um outro alguém.
Desculpe pai mas não quero ser mais uma mulher que cultivou e que incentivou a sociedade a criar rótulos e estereótipos.
Desculpe pai se não me calo e não aceito mas luto pelos meus ideais.
Desculpe pai mas não há nada porque tenho de pedir desculpa e peço desculpa ao mundo por tanta gente inclusive o pai, não entender isso.

-mm



sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Mataste-me


Conheci-te quando o sague em mim estava quente. Sempre soubeste que os meus artistas preferidos foram valorizados depois de mortos, esperei que o mesmo acontecesse comigo mas eu estou morta e tu ainda não voltaste. Cravo as unhas no caixão e espero que grites para a minha sepultura o quanto valor eu tinha em vida. Não te valerá de nada qualquer grito, gemido ou musculo a tremer e de pouco interessará o arrependimento.
Não terei olhos para te ver a chorar, nem boca para te beijar, nem palavras para te desculpar. Mataste-me e como acréscimo tentarás reanimar o que tínhamos quando os meus braços já não tiverem forças nem possibilidade para te agarrar. Haverá flores brancas e rosas na minha campa e tu de preto preencherás o vazio de todo o cemitério, o luto irá matar quem estará ao teu lado e vais ser culpado de vários homicídios apenas devido a toda a culpa que irás carregar por me teres cortado e quebrado até sem deixar outra opção que não a morte.
Morri nua e nos teus braços mesmo que te suplicasse a eternidade. As tuas mãos fortes e com veias salientes nunca me pareceram tão fracas como naquele segundo que me tiraste a vida por opção própria, lembro-me de ver as tuas lágrimas a cair enquanto o sague jorrava nos lençóis onde fazíamos amor. Pedi-te um ultimo abraço e sussurrei o quanto te ainda te amava.
Eu perdi a pulsação tentando sobreviver apenas porque teria a possibilidade de te sentir uma vida inteira, tu perderás uma vida na tentativa de sobrevivência numa existência onde não existo apenas por tua decisão. Carregarás a campa mesmo que ela esteja debaixo da terra.
Eu morta de pele pálida e sem cor ou sabor irei fazer com que me ames para sempre e que o teu vestuário seja baseado em preto e em luto mesmo que outro alguém entre na tua vida.
O sabor da minha morte terá um sabor mais intenso do que qualquer outra existência que se acolha nos teus braços.
No funeral irás abraçar a minha mãe, suplicar-lhe para que te conte a quantidade de lágrimas que jorrei por ti, tocarás na mão do meu pai e irás quebrar-te por teres morto a pequena menina dele, vais confessar-te ao padre e a Deus o quanto errado estavas em teres-me golpeado mesmo sabendo que não haveria possível reanimação depois disso. E no final de tudo não irás amar mais ninguém pois será tarde de mais quando te aperceberes o amor que sentias por mim pois ofereceste-me a eternidade que não é possível ser passada a teu lado.

-mm