quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Para o meu primeiro amor que seria atual se não fosse o primeiro



        Éramos tão novos e sim eu sei que essa foi a beleza do nosso amor mas também foi a grande tristeza. Amor, meu querido primeiro amor, dentro de mim eu acredito que somos almas gêmeas e que o tempo nos levou para longe porque é sempre isso que ele faz - levar a vida para a frente - porém, se nos tivéssemos conhecido depois, não naquela época maldita onde um erro era o final do mundo, eu sei que ainda estaríamos juntos. Juro e eu sei que jurar é algo sagrado mas contigo sempre tive a certeza que devia ter dado certo mas éramos demasiado ingénuos, demasiado crédulos e a juventude escorria nas veias e isso levou-nos ao nosso final, aquele que ainda ambos sentimos o sabor uma vez ao mês e iremos saborear a vida a toda. Sim, porque foi o nosso final que deu início à nossa vida toda, foi quando larguei a tua mão que escolhi os caminhos que hoje percorro e foi quando afastaste a tua língua da minha que traçaste o plano que hoje segues. Os anos passaram, a nosso lado já estiveram outras pessoas, já presenciamos outras histórias e os nossos corpos já quase não se lembram um do outro e da inocência que partilhavam mas a verdade é que eu sei que tanto eu como tu, iremos guardar a nossa história de amor cada um à sua maneira - eu vou guardar carinho, amor e lágrimas pelos erros que cometeste pela primeira vez comigo e tu vais guardar tudo aquilo que sentes, que eu sei que também te atinge.
       Fomos errados, imperfeitos, caímos os dois no chão e não soubemos erguer-nos unidos e a pura realidade é que muitas vezes isso acontece porque o amor pode ser verdadeiramente intenso mas pode ser, ao mesmo tempo, insuficiente. E é sempre nesta parte que começo a sentir a mágoa no meu peito por encarar a tal verdade: nós não fomos suficientes; mas a culpa não foi tua nem minha e, acredita, nem nossa. Foi a nossa idade, a nossa primeira vez em tudo que nos tirou um do outro. Quando estávamos juntos, ambos acreditávamos num amor simples, sem luta, verdadeiro, sentido e quando chegaram demasiadas questões que a vida sempre se encarrega de trazer, tu decidiste ir e eu dei-te toda a permissão do mundo. Não te odeio por isso, aliás, finalmente entendo-te porque eu quando estava a teu lado pensava no amor como sinónimo de facilidade e paz até que a cada vela soprada acabei por me aperceber que a verdade não é essa - o amor necessita de luta, de empenho, de tentativas e de garra e nós, como éramos tão jovens, deixámo-nos perder por não entendermos isso. Se fosse hoje, agora que já passaram uns bons anos, agora que tu já sabes mais sobre o assunto assim como eu, tenho a certeza que não nos teríamos largado, não teríamos escolhido um fim mas também, a nossa beleza está nos erros todos que cometemos de mãos dadas porque a nossa beleza está no facto de sermos o primeiro amor um do outro e de sermos inesquecíveis por isso. Seríamos um amor para sempre se não tivéssemos sido o primeiro mas a verdade é que a eternidade também vive no facto de nos termos apaixonado pela primeira vez um pelo outro.

-MariaCunhaESilva


sábado, 7 de outubro de 2017

Inteligência Emocional

Tenho saudades da tua inteligência emocional.
Descobri isso hoje.
Todos os homens que ficaram depois de ti, queriam ficar para sempre.
Amaram-me fácil.
Fizeram-me sentir simples porque aceitavam tudo.
Choraram ao meu colo.
Disseram-me que iam amar-me para sempre.
Mesmo quando sabiam que ninguém ama para sempre.
Discutiam com a alma aberta e batiam com as portas.
Despiam-se facilmente.
Faziam amor pelo quotidiano.
Deram-me a vida deles para as minhas mãos.
E pediram-me para serem salvos.
Como se no mundo atual alguém perdesse tempo a salvar outra pessoa.
Diziam que me amavam várias vezes ao dia e esperavam uma resposta de volta.
Ofereciam-me a perfeição.
Que se tornava imperfeita por isso.
Eram fáceis de ter.
Fáceis de manter.
Eram previsíveis.
Queriam que eu os curasse de uma doença que não tem cura.
Queriam ter, através de mim, tudo aquilo que não conseguiam obter sozinhos.
E eu nunca os consegui amar.
Não da maneira que eles desejavam.
Nunca entendi porquê.
Até hoje.
Que percebi que tinha saudades da tua inteligência emocional.
Da maneira como enchias o teu peito com certezas.
Como as tuas mãos eram firmes.
E os teus olhos focados.
Dizias que me amavas mas que nunca ias morrer por isso.
Numa discussão, mantinhas a voz calma e escolhias o silêncio.
Quando choravas, mantinhas a postura.
Despias-te lentamente como se me estivesses a pedir para eu guardar cada momento a teu lado.
E guardei.
Fazias amor comigo com vontade, com desejo e com carinho.
Dizias que a vida teria de continuar depois do nosso final.
E continuou.
Quando eu pedia para me salvares de mim própria, tu dizias que só eu me podia salvar.
E tinhas razão.
Todos aqueles que me salvaram, acabaram por me deixar afundar de novo.
Porém, no dia em que me resgatei nunca mais cai.
Dizias que me amavas várias vezes ao dia com a certeza que não precisavas de reciprocidade.
Amavas e ponto.
Amavas-me.
Oferecias-me uma imperfeição.
Que se tornava perfeita.
Nunca foste fácil de ter.
E muito menos de manter.
Porque não havia nada de previsível em ti.
Dizias que os doentes são aqueles que mais saúde têm.
Aceitavas que ambos não tínhamos cura e, assim, éramos felizes.
Obtínhamos, ambos, tudo aquilo que desejávamos quando estávamos de mãos dadas.
E eu amei-te.
Não da maneira que desejavas.
Mas muito mais do que o necessário.
Era demasiado amor.
Nunca entendi porquê.
Até hoje.
Que percebi que tinha saudades da tua inteligência emocional.
Das certezas que me davas.
Do homem que eras.
A teu lado, sentia-me invencível.
Olhava-te como se não fosses um mero mortal.
Ainda hoje acredito que não és.
Não tinhas medo.
Eras aquilo que eras.
A felicidade era de fácil alcance.
Não eras frágil para o mundo.
E a teu lado, eu sentia-me assim.
Enquanto ao lado deles, as minhas fraquezas regressam.
Vejo mortalidade em tudo.
Tenho medo.
A infelicidade torna-se de fácil alcance.
E o mundo vê-me frágil.
Só a teu lado consigo lutar contra os fantasmas.
Contra as dores.
Porque vejo o modo como vives a vida e eu imito-te.
Tento ter a inteligência emocional que te pertence.
E que me faz amar-te ainda.

-MariaCunhaESilva