Tenho saudades da tua inteligência emocional.
Descobri isso hoje.
Todos os homens que ficaram depois de ti, queriam ficar para sempre.
Amaram-me fácil.
Fizeram-me sentir simples porque aceitavam tudo.
Choraram ao meu colo.
Disseram-me que iam amar-me para sempre.
Mesmo quando sabiam que ninguém ama para sempre.
Discutiam com a alma aberta e batiam com as portas.
Despiam-se facilmente.
Faziam amor pelo quotidiano.
Deram-me a vida deles para as minhas mãos.
E pediram-me para serem salvos.
Como se no mundo atual alguém perdesse tempo a salvar outra pessoa.
Diziam que me amavam várias vezes ao dia e esperavam uma resposta de volta.
Ofereciam-me a perfeição.
Que se tornava imperfeita por isso.
Eram fáceis de ter.
Fáceis de manter.
Eram previsíveis.
Queriam que eu os curasse de uma doença que não tem cura.
Queriam ter, através de mim, tudo aquilo que não conseguiam obter sozinhos.
E eu nunca os consegui amar.
Não da maneira que eles desejavam.
Nunca entendi porquê.
Até hoje.
Que percebi que tinha saudades da tua inteligência emocional.
Da maneira como enchias o teu peito com certezas.
Como as tuas mãos eram firmes.
E os teus olhos focados.
Dizias que me amavas mas que nunca ias morrer por isso.
Numa discussão, mantinhas a voz calma e escolhias o silêncio.
Quando choravas, mantinhas a postura.
Despias-te lentamente como se me estivesses a pedir para eu guardar cada momento a teu lado.
E guardei.
Fazias amor comigo com vontade, com desejo e com carinho.
Dizias que a vida teria de continuar depois do nosso final.
E continuou.
Quando eu pedia para me salvares de mim própria, tu dizias que só eu me podia salvar.
E tinhas razão.
Todos aqueles que me salvaram, acabaram por me deixar afundar de novo.
Porém, no dia em que me resgatei nunca mais cai.
Dizias que me amavas várias vezes ao dia com a certeza que não precisavas de reciprocidade.
Amavas e ponto.
Amavas-me.
Oferecias-me uma imperfeição.
Que se tornava perfeita.
Nunca foste fácil de ter.
E muito menos de manter.
Porque não havia nada de previsível em ti.
Dizias que os doentes são aqueles que mais saúde têm.
Aceitavas que ambos não tínhamos cura e, assim, éramos felizes.
Obtínhamos, ambos, tudo aquilo que desejávamos quando estávamos de mãos dadas.
E eu amei-te.
Não da maneira que desejavas.
Mas muito mais do que o necessário.
Era demasiado amor.
Nunca entendi porquê.
Até hoje.
Que percebi que tinha saudades da tua inteligência emocional.
Das certezas que me davas.
Do homem que eras.
A teu lado, sentia-me invencível.
Olhava-te como se não fosses um mero mortal.
Ainda hoje acredito que não és.
Não tinhas medo.
Eras aquilo que eras.
A felicidade era de fácil alcance.
Não eras frágil para o mundo.
E a teu lado, eu sentia-me assim.
Enquanto ao lado deles,
as minhas fraquezas regressam.
Vejo mortalidade em tudo.
Tenho medo.
A infelicidade torna-se de fácil alcance.
E o mundo vê-me frágil.
Só a teu lado consigo lutar contra os fantasmas.
Contra as dores.
Porque vejo o modo como vives a vida e eu imito-te.
Tento ter a inteligência emocional que te pertence.
E que me faz amar-te ainda.
-MariaCunhaESilva
Sem comentários:
Enviar um comentário