terça-feira, 24 de maio de 2016

Trinta e um



     Foram meses que pareceram anos, falo por mim, que por ti já deixei de gastar a beleza da língua portuguesa. Em um mês tínhamos mais de mil fases.
Dia um: Hoje vi-te, acho que a tua barba está a crescer mais rápido que o normal, mas tu não me viste, fugi para um canto para não deixar a minha vida a um canto por tua causa.
Dia dois: Hoje não te vi mas tenho saudades tuas.
Dia três: Estás a usar aquela camisa que eu te dei num dos nossos aniversários. Lembraste-te de mim de manhã?
Dia quatro: Andei a escrever demasiado, culpa tua.
Dia cinco: Embebedei-me com aquele meu amigo de longa data, que antes era teu amigo também.
Dia seis: Estive de ressaca e recebi uma mensagem tua a dizeres que tinhas saudades minhas, também tenho tuas.
Dia sete: O silêncio e a solidão são melhores do que ir para a rua sem ti.
Dia oito: Vou tomar café contigo, estou a vestir a mesma roupa que usei no nosso primeiro beijo, espero que te lembres.
Dia nove: Voltar a falar contigo e dar-te um beijo na cara valeu pelo mundo inteiro. Amo-te tanto.
Dia dez: Não respondes. Voltámos ao mesmo, não voltámos?
Dia onze: Vamos a uma festa onde somos ambos convidados, mal posso esperar por te ver de novo.
Dia doze: Passaste a noite com aquela rapariga, a mesma que te vi a falar no parque no outro dia mas o que interessa é que no final da noite disseste-me que estava linda.
Dia treze: Vi-te de novo com aquela miúda, ia entrar para o café onde vocês estavam mas não aguentei, fui-me embora e deixei-vos sozinhos para serem o que quiserem ser.
Dia catorze: Ligaste-me a perguntar como estava, disse-te que estava bem mas menti, obviamente que menti.
Dia quinze: Passaste por mim e não me disseste nada, espero que te ter mentindo não me faça perder as possibilidades de voltares.
Dia dezasseis: Vi aquela rapariga com outro rapaz, aos beijos num bar. Estou feliz por vocês não estarem juntos.
Dia dezassete: Sonhei connosco.
Dia dezoito: Perguntaste se podias lá por casa, no meio de um cigarro disseste que nunca ias amar alguém como me amaste.
Dia dezanove: Não paro de pensar em ti.
Dia vinte: Mandei-te uma mensagem a pedir que viesses cá a casa, vieste mas não largaste o telemóvel por estares às mensagens com alguém.
Dia vinte e um: Sinto que sou incapaz de beijar outra pessoa a não ser tu.
Dia vinte e dois: Há outra miúda na tua vida, vi-te a entrares na tua casa com ela. Talvez possa ser nada.
Dia vinte e três: Continuo com saudades tuas. Também tens saudades minhas?
Dia vinte e quatro: Disseram-me que te viram aos beijos com essa nova rapariga. Amá-la?
Dia vinte e cinco: Não sei nada de ti há dias.
Dia vinte e seis: Espero que estejas bem, tenho saudades nossas.
Dia vinte e sete: O meu telemóvel vibrou quando ia jantar "posso passar aí por casa?", claro que podes e tu sabes que nunca te iria dizer que não.
Dia vinte e oito: Ontem falámos sobre as nossas novas conquistas, eu não tinha nada a contar mas tu falaste, disseste que nunca sentiste o mesmo que sentiste comigo, por outro alguém.
Dia vinte e nove: Liguei-te porque parecias um bocado perdido, não atendeste e os meus amigos disseram que te viram bêbedo na rua. Espero que tenhas voltado a casa bem.
Dia trinta: Bebi demais e liguei-te, não atendeste. Era só para te dizer que te amo muito.
Dia trinta e um: Ainda te amo, e tu?
     Não imaginas a quantidade de pessoas que me diziam que tinha uma obsessão mas nenhuma delas sabiam o que te ouvia dizer sobre tudo o que tínhamos sido, acho que se soubessem tinham entendido.
     Acho que tivemos mais dias a dizer que nos amávamo-nos do que a realmente a amarmo-nos.
     Não sei qual é a história que contas mas sei que a que conto é a verdadeira por isso durmo em paz.
     Passámos meses e meses a remexer numa história que devia ter sido acabada mas quando nos olhávamos olhos-nos-olhos entendíamos que estava por acabar e aí continuávamos na doença que era a tentativa de reatar, que sempre falhava.
     Talvez tenha sido louca, não por te dizer que ainda te amava tanto tempo depois de teres partido mas por ter acreditado que me amavas quando apenas me dizias em dias solitários.
     Em poucos meses juntos, vivemos uma eternidade mas os primeiros, onde começámos a aprender a viver separados davam para preencher uma história de vida e de após-morte. E se não morri depois de tu me deixares, não acredito como sobrevivi. Acho realmente que renasci e que te deixei de amar depois daí, depois de meses de cansaço e de lutas infernais para entender se valia a pena lutar ou se não dava mais.

-MariaCunhaSilva




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