Ofereces-me
o presente que quem nos criou
imaginou de perfeito para mim,
a tua vulva,
o embrulho do pecado,
pela gula que te tenho de te comer,
ai que se Deus me ouve perco-te,
mas pensa,
a sua omnipresença já me declarou,
ai que vou ao inferno pela tua pele,
pela tua vagina nua,
igual como ao mundo vieste.
A virgindade é, para mim, psicológica
e mesmo assim não somos virgens,
perdoem-me a sinceridade,
sei que pareço um puto na puberdade
que descobriu o clitóris,
mas o que me aconteceu,
foi que o céu desceu à terra,
para me chamar para o lado do diabo.
Vieste em quase carne seca,
numa sinistralidade absurda,
mulher que geme quase muda,
entraste pela portas do fundo,
num clube noturno,
com tabaco e poeira,
parecia que havia um sinal de Deus
para virar a cara para a dianteira,
a minha vida e morte começaram ali,
no primeiro minuto que te vi.
Mulher danada que as tuas ancas dançam,
como se trabalhassem para um processo de hipnotização,
vivemos um daqueles amores antigos,
se Camilo ainda estivesse vivo,
seríamos musas para outro Amor de Perdição.
Li na bíblia que Jesus nasceu de uma mulher virgem,
não tenho ideia de como foi a tua criação
mas, oh carne que eu amo, sei que nasceste para mim,
que a tua mãe carregou no ventre a história da minha vida.
Estou agradecido ao sexo por te fazer existir,
pelos teus pais se terem despido na noite em que te fizeram,
e nem quero saber se amavam,
se pecaram
ou se apenas procriavam como a religião nos pede.
Quem acredita que alguém poderá esperar por ter um anel no dedo para ter prazer,
nunca conheceu nenhuma mulher com o teu corpo,
com a tua genialidade de me fazeres tropeçar nos erros
que me farão arder internamente com todos os pecadores
mas, oh quem julga os meus erros, diga-me se não concorda:
pecado era não te ter feito marcar as minhas costas,
ver-te de bochechas rosadas,
e de olhos semicerrados.
Tu, que sei lá porquê apareceste,
que parece que carregas
Maria Madalena na alma,
discípula de Deus
que mostra-me que a igreja está errada por não aceitar o prazer carnal.
Oh corpo que a mim me sacia,
tu mulher que pareces perdida,
rezemos juntos,
despidos,
iremos confessar,
semanalmente
pois o pecado de coexistirmos nas mesmas quatro paredes
faz-nos ser pecadores regulares.
Desculpem-me os mais fieis,
os erros dados pela pele,
pelos orgasmos,
gritos e roupas no chão
mas algo que prometo é que nunca cometerei adultério,
a esta mulher, senhora, que Deus criou para mim.
amen
-MariaCunhaSilva