terça-feira, 12 de julho de 2016

Para ti que sabes o meu nome


     O tempo passa e o que te prometi mantem-se, amei-te como nunca voltarei a amar ninguém, com a minha falta de maturidade, com as hormonas as saltos e com um sorriso patético e lágrimas no rosto.
      Lembro-me de ti nos comentários das minhas amigas, nas conversas de café e numa fotografia que guardo numa gaveta que ninguém mexe para não vir o passado ao de cima de novo. Já chegaram os mais de trezentos e sessenta e cinco dias que te amei para não andar agora a reviver-te em pequenas partes da pessoa que sou sem ti, uma pessoa nova e sã. Amar-te destruía a minha sanidade e a necessidade que tive durante meses de esquecer-te enlouqueceu-me ao ponto de ainda hoje chorar quando recordo os pratos cheios pela minha alma vazia, a fome que tinha de ti mas que nada o mundo me oferecia para me querer alimentar de novo, seja como metáfora ou realmente. Não comia e tu não aparecias.
      Conheci muitas pessoas, histórias de vida e olho para o mundo de uma forma redondamente diferente e bem lá no fundo gostava que ainda aqui estivesses, como ouvinte para te contar tudo aquilo que acredito agora. Não sei bem o que te diria, deixei de encenar discursos desde há muito mas imagino a tua cara de surpreendido por tudo que me tornei. Estou mais forte e mais fraca simultaneamente, não sei como te explicar nem explicar a ninguém o que sinto. Há caminhos que tracei e onde cai e outros onde caminhei suavemente e sei que todos eles aconteceram pela decisão que tomámos juntos de nos deixarmos prematuramente. Obrigada por me teres feito uma mulher, mesmo que saiba e não queira acreditar, para não te culpar, que conseguiria tornar-me uma se envelhecêssemos lado a lado.
     Sei que odeias as palavras, as estrofes, tudo o que nos faz renascer tanto tempo depois mas a beleza disso é tão bonita, é metafórica e eterna. Não o desejas, nem por um segundo em que lês?
     Nunca conseguimos acabar com tudo, tínhamos a aptidão autodestrutiva de reatarmos, de nos beijarmos e nos contactarmos mesmo que não me amasses, como tu afirmavas. O mundo ofereceu-nos a vantagem de largarmos tudo, deixarmos cair por terra memórias e possibilidades de recomeço e nós agarrámo-la tal como nos devíamos ter agarrado no dia em que em lágrimas dizíamos que não havia modo algum de estarmos lado a lado.
Apaixonámo-nos, talvez não tão perdidamente, porque ambos temos cicatrizes tão profundas que nos assustam quando pensamos em relacionamentos. Deixámos de gostar de amar mas amámos outras pessoas, beijámos corpos na procura do que já não podíamos ter juntos e gritámos em plenos pulmões o odio que há entre nós. Odeio-te por teres feito o que me fizeste e por teres deixado de querer o mesmo que eu - tu também me odeias por isso.
      Depois de tudo isto vem as comparações, a necessidade irracional que o nosso cérebro tem de nos dizer que fomos melhor que aquilo que temos com alguém ou que o que temos atualmente tem uma valorização maior do que algo que alguma vez tivemos. Tento resistir às tuas passagens ocasionais quando penso no que sinto mas tu sempre apareces, como se fosses a confirmação para tudo o que posso estar a sentir atualmente. Preciso de ti, das nossas memórias para ter a certeza de que amo mais hoje do que nunca.
      E acredito, que foste o amor da minha vida até agora mas que provavelmente não o serás para sempre, assim como agora já não és o homem que mais amei. Marcaste-me mais com a tuas recaídas, com as minhas lágrimas perdidas por ti, pelo amor desvalorizado, pelo tempo que não tivemos mas que devíamos ter tido, pelos desgostos e desilusão. O amor que me deste foi sempre amaldiçoado, com tombos mal dados, com cales e gritos no silêncio que partilhávamos e até agora, até este momento não há alguém no mundo que me tivesse marcado tanto de tão mal me ter feito ficar e é por isso que não te esqueço, que não escrevo e te uso como musa para a poesia que trata de sarar as feridas que causaste.
       Agora só nos resta que o tempo passe, que as canetas se cansem de ti e que o titulo que a ti te dou alguém te tire por boas razões, agora apenas basta andar de cabeça erguida, de mão dada com o melhor presente que o presente me poderia ter oferecido, ele que não te conhece mas te inveja, ele que não sabe o teu nome de cor mas que beija a pele que um dia deixaste de amar, ele que me seca as lágrimas quando lhe conto o meu passado e lhe peco que não faca o mesmo.
       Sei que te achas o herói da história, o que sagra a vitória com louros mas a vitória está em mim, por me ter levantado infinitamente, por ter sabido sair a tempo de camas de que não amava e por ter apenas a certeza que te tinha deixado de amar quando todo o sangue que corria em mim acreditou que sim, não como tu que te arrependias de me teres dito que já não havia sentimento no segundo a seguir ao proferires.
       Agora chegará o tempo de assinar o meu nome, para que o mundo saiba que sou eu que passo estas palavras para o papel mas eu sei, que nesta altura já saberás quem escreveu tal prosa e por isso sorrio e tu te enervas, pela impossibilidade de absolvermos o passado que tivemos, os pontos que conhecemos um do outro e tudo aquilo que partilhámos. Aqui vai, não para ti que sabes o meu nome mas para os outros todos que não sabem o teu:

-MariaCunhaESilva



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