Tenho medo,
o amor está a evaporar-se.
Não sei que tipo de escritora sou sem ter o coração partido.
As folhas não me amam de volta se eu não te amar, mesmo sabendo que não me amarás.
Parece-me quase uma tortura,
ter de manter um amor por uma razão qualquer.
O amor não devia ter razões para existir.
Sinto-me a acabar,
tenho a perceção de que a minha carreira de escritora vai acabar sem nunca ter começado.
O meu coração aos pedaços nem redeu um livro em meu nome.
Não sei o que ser para além de romancista,
não imagino um futuro qualquer sem ter folhas de papel espalhadas pelo quarto.
O meu maior receio era amar-te durante toda a minha vida mas agora nem sei o que é a vida sem te amar,
quem sou eu para além de cacos e pedaços inacabados de uma pessoa que criava pelo amor que lhe sentia.
Não vou receber prémios ou assinar livros,
"Para a Julieta que me lê desde os dezoito.",
"Para a Margarida, que tem a sorte de ter um João na vida.".
Preferia ter uma caneta com tinta sempre gasta do que ter um coração como este,
a curar-se.
Um coração sem arranhões de pouco vale,
pouco rende
e poucas memórias dá aos outros.
Lembro-me de quando tinha o coração a arrastar-se pela calçada molhada e fria,
todos lembravam-se de mim,
era a miúda que pouco tinha e tudo dava.
Quase que não tinha alma mas gastava os vestígios dela para fazer alguém sentir o que eu queria sentir.
Sou masoquista,
uma empresária nos sentimentos,
deem-me contratos com editoras e um coração inteiro
que eu escolho lágrimas e livros de duzentas páginas.
As lições dos que já se quebraram é o que une as categorias dos livros,
não há cientista que não tenha chorado por não encontrar respostas,
não há um romancista que não tenha chorado por lhe faltar a inspiração,
as dores é o que une todos nós,
todos aqueles que inspiram alguém.
Não há quem seja um ídolo e que não tenha estado trémulo e sem forças para viver a vida.
Então, prefiro viver arranhada e ser lida do que andar inteira só por andar.
A bem ou a mal, foi quando estive mais quebrada que percebi a minha função,
de gritar e expor os meus sentimentos,
de mostrar pelo que já passei.
Foi quando a vida me mostrou os seus defeitos que percebi as minhas qualidades.
Não há pior existência do que aquela que é protegida de quedas,
não há existência mais invalida do que essa.
Então tenho medo que esteja curada,
inteira,
parece-me que me sinto a perder por me estar a encontrar.
Eu não me reconheço sem cicatrizes e sem uma caneta na mão por um amor que não me ama,
por isso, quero amar quem não me ama para sempre,
por egoísmo e pelo medo de deixar de ser quem sou,
uma melancólica que vê na poesia a solução da vida.
-MariaCunhaESilva
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