quarta-feira, 26 de abril de 2017

Na altura que devias passar a nada


      Os teus pequenos gestos só foram notados depois de acabarmos a nossa relação - aquele like que era habitual, tornou-se num gesto simpático, aquele "olá" apressado tornou-se em respeito e aquele abraço solto tornou-se num "quero mais mas não posso". A tua despedida fez-me sentir-te em pleno, amar-te em cada milímetro que antes era invisível. O teu adeus tornou-te opulento e impetuoso.
       Depois de me deixares, os teus lábios tornaram-se mais irresistíveis e o teu corpo mais excessivo e avassalador - tu cresceste em todas as formas e feitos e tornaste-te no homem que eu sabia que ia amar para sempre. O teu desaparecimento sádico fez-me procurar-te como se não conseguisse viver sem ti, como se a minha vida fosses tu e só tu. Amei-te mais depois de te perder do que antes.
       Quando penso na nossa ruína, o meu peito enche-se de orgulho por ter vivido dias de seguida a teu lado, guardei as memórias num local intacto e irremovível da minha alma. Fiz-te de ti o homem da minha vida quando já não o eras. Tornei-te mais meu do que nunca. Chorei pelo amor que estava a criar dentro de mim, um sentimento tão voraz e perpetuo que me ia condenar durante meses e anos. Angustiei-me por te ter feito meu quando já não o eras.
       No momento em que te despediste, os teus passos soaram mais firmes, o teu pulso mais forte e o teu cabelo mais brilhante, os teus olhos ostentavam uma segurança e sedução que nunca tinha sentido. Olhei para o teu corpo como se ele se tivesse tornado virgem de novo para mim. Fiz de ti autoridade, eras o sinónimo de Cristo.
      Chorei-te em lágrimas grossas, gritei-te em palavras densas e amei-te como fosses o único homem que já tinha amado. Quem me viu, ouviu e me abraçou, não entendia como poderia eu estar a sofrer tanto assim mas mal eles sabiam que o meu amor por ti tinha evoluído com tempo, aquele que passávamos separados. Foste o meu maior amor, a minha maior paixão, o meu maior caso, a minha maior aventura, o meu maior romance quando já não pertencias à minha vida. Amei-te como se ainda me amasses e como se fossemos ficar juntos para sempre.
       Vi o que antes não tinha visto, depois de teres terminado comigo. Aumentaste em todos os teus aspetos depois do nosso último beijo. Na altura que devias passar a nada, tornaste-te no mais-que-tudo. E tu, que viste-me a chorar como louca, a tremer como doida e a suplicar-te como uma alucinada, devias perguntar-te como nunca reparaste que havia tanto amor por ti dentro de mim mas, meu amor, eu explico-te: o meu amor intensificou-se e aumentou a partir do dia em que me deixaste.

-MariaCunhaESilva






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