terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Os amores da minha adolescência


      Os anos passam e eu não sei demitir-me do cargo de "namorada". Como deixar de lado uma vida que um dia se uniu à minha?
       Aos quinze foi a primeira vez que me apaixonei e acredito que ainda hoje amo quem me pertenceu de uma maneira bonita e virgem. Na mesma idade, o meu coração foi invadido por um sentimento de carinho, estabilidade e amor e ainda hoje amo quem um dia me fez pertencer a uma realidade que não estava pronta para a confusão da minha alma e cabeça. Por um fui deixada e o outro deixei, ambas as situações foram infantis mas a minha juventude não me perdoava e a quem eu amava também não. Aos quinze provei o sabor de amar, de deixar de amar e de amar de novo, tudo num só ano. Dizem-me que nessa altura não era amor mas raios partam que eu hoje sou uma suposta adulta e ainda consigo sentir nos meus lábios o vazio de os ter perdido. Quem me dera poder voltar ao tempo e dizer-lhes que não sabíamos nada da vida e que tudo era demasiado precipitado e confuso, quem me dera poder tocar com a minha língua naquela juventude e liberdade de ser de alguém pela primeira vez. Eu digo "pertencer a alguém" mas refiro-me de uma maneira saudável mas poética, vivi a minha adolescência a ser minha e a partilhar a minha existência com alguém sem sufocos e engasgos.
O tempo fala pelos ponteiros do relógio mas o coração continua frágil como da primeira vez.
Há quem diga que se aprende com as quedas mas a minha alma está viciada em quedas, e eu que as aguente.
       Aos dezasseis, provei o amor real no amor que tinha sido um amor pequenino. Não há sentimento melhor do que voltar a casa e acho que é isso que se sente quando se volta a abraçar o nosso primeiro amor. Senti que o mundo estava a meu favor e que merecia a paz que tinha recebido. Não há palavras existentes para explicar o sentimento de ver o nosso amor a chegar de novo mesmo que venha mais crescido, com outras histórias e com os lábios a saber a aventuras. Nessa idade, vivi o meu para sempre sem pensar que tudo realmente acaba. Num certo dia, o meu mundo caiu, perdi o amor que pensava ser eterno e vi toda a minha existência a perder o sentido. Eu sei que drama se encaixa na minha personalidade mas eu não sabia realmente por onde começar pois por onde quer que eu quisesse tomar rumo, notava que havia um buraco naquilo que era. Os meus queridos dezasseis foram o receber o mundo e perder o universo e sinceramente, mesmo que na altura não tenha percebido, certas perdas foram culpa minha. Com essa idade, aprendi a levantar-me depois de quedas constantes, aprendi que quem um dia nos amou pode e deve seguir a vida que deseja mesmo que a mesma não nos inclua. Aprendi que corpos não calam a mente pois quem nos toca tem melhor sabor se houver sentimento. As pessoas diziam que tudo ia passar mas ainda hoje, com o tempo que passou, ainda há cicatrizes que tenho de curar mas, agora, dou tempo ao tempo e espero que o mesmo cure e traga tudo aquilo que desejo. No ano em que apaguei dezasseis velas cresci como mulher, deixei de ver o amor de uma forma tão suave e apercebi-me que aceitar regressos acaba por destruir aquilo que já foi vivido.
      Aos dezassete vivi mais de mil fases. Aprendi a manter o amor que sentia calado pois não vale fazer juras de amor a quem não nos quer a seu lado. Apercebi-me da pessoa que era e voei sozinha, perdida mas com vontade de me encontrar de novo - e encontrei, talvez depois de muitos cigarros, bebidas e choros mas encontrei-me. E quando, finalmente, me encontrei acabei por encontrar outro alguém que docemente juntava os cacos da minha pessoa que eu tinha perdido. Nessa idade, encontrei o amor-amor, aquele que é tão cego e que me aceitou de todas as maneiras, contava-lhe as minhas angustias e ele acreditava que podia mudar o meu mundo - e mudou. Aos dezassete encaixei-me nos braços de alguém enquanto lhe gritava que não me conseguia salvar e aí, apaixonei-me quando já nem acreditava no amor. Entreguei-me cruamente, numa espécie de ultimato "amas-me por inteiro ou deixa-me" e ele nunca me deixou e eu nunca lhe menti sobre o que sentia. Com os dezassete às costas,  apercebi-me que o amor que é amor é leve e não me pode me dar medo de ser deixada amanhã. Entendi que o que tinha vivido até então tinha me feito demostrar apenas a parte bonita de mim mas que estava na altura ser mais e de receber mais.
      Aos dezoito já carregava três histórias, três amores mas apenas um estava na minha vida, o amor-amor. Tropecei várias vezes e apercebi-me que tinha vivido a amar os outros e a deixar-me andar por aí. Completei pela primeira vez mais de trezentos e sessenta dias ao lado da pessoa que amava e tudo isso me bateu no peito por me ter apercebido que aos quinze sentimos a primeira vez de tudo de uma maneira diferente. Com dezoito, aprendi que a rotina muda o sentimento por mais que se ame e que a esperança de mudanças naqueles que amam não tem fim. Aprendi que o corpo é necessário numa relação mais por egoísmo do que por outra coisa e que fazer planos deixam de ser suportáveis quando têm de ser diários. Com essa idade, provei o ritmo continuo das situações e a tristeza que é termos um passado que estará sempre agarrado à nossa pele. Provei, também, o sossego e a paz de não lutar para mostrar as minhas qualidades como é necessário na selva da sociedade que quer iniciar relações. Foi com essa idade que vi que estava a crescer e que tudo aquilo que fui e vivi nunca poderá ser repetido e por isso, aprendi que tem de lutar contra as rugas que o amor ganha. Aos dezoito, que ainda carrego, espero não crescer tanto assim e a aprender a amar de novo, como quando tinha quinze, antes da tragédia dos meus dezasseis, ao lado da pessoa dos meus dezassete.

-MariaCunhaESilva


terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A mulher que está por detrás do homem


Por detrás daquele homem que todas amam estou eu, quieta e calada.
Sou mulher de um homem que deseja dezenas de mulheres e corpos.
Sou-lhe por inteiro e ele sabe mas prefere fazer-me visitas mensais do que aceitar-me diariamente.
Ele é tudo aquilo que eu sou contra mas também é tudo aquilo que invejo. Quem me dera conseguir conciliar os meus sentimentos com a minha realidade, as minhas discussões interiores com as manhãs geladas. Invejo o controle que ele tem da vida e que tem em mim. Invejo não puder controlar nada e ele poder fazê-lo com tudo. Sou a mulher que ninguém quer ser.
Sou aquela que acredita que o amor só acontece uma vez na vida e por isso, mantenho-me sem afetos a outras pessoas.
O homem que eu amo, ama-me mas bem Deus sabe que isso não basta. Não basta o amor para tudo dar certo. O que ele quer não dá para conciliar com uma vida em conjunto. Sou a mulher que prefere tê-lo durante vinte minutos, numa entrega de suores e fluidos do que nunca o ter na vida inteira.
Há quem não entende a minha razão de acreditar que sou diferente, de todas as outras e das mais algumas que eu não sei que existiram mas eu cá sei o porquê. Ele volta e quando volta, é sempre para mim. Sou a mulher mais mulher que ele tem, não pelo sexo, não pelo tempo mas pelo sentimento e ele é homem, o único homem que eu tenho.
Sou aquela que está na sombra dos beijos ácidos que ele oferece. Eu provo-o em noites de chocolate quente e lareira e mesmo que sinta o perfume de mais alguém entranhado nas suas camisolas, eu não sei, mas vale sempre a pena o amor que sinto nos minutos rápidos e velozes que passo com ele. Eu não quero saber onde passa o tempo livre, eu quero é ser o tempo livre que ele tenta arranjar no meio da confusão da vida dele, não quero ser um passatempo mas sim uma escolha. Ele escolhe-me cada vez que me diz que quer-me ver de novo, que a vida passa rápido e que mesmo assim ainda temos tempo para ficar sérios. Ele escolhe-me, sabe o meu nome, conhece aquele sinal que está no meio das minhas costas e os gritos de prazer que eu transmito para os lençóis do quarto, eu não quero saber em quem ele tropeça, nas mulheres que são alguém, um alguém sem nome para ele. Pouco me interessa as pobres coitadas que são uma contagem e não um nome.
Eu sou a mulher que ela invejam mas de quem têm pena. Sou aquela que consegue ter o que elas querem mas elas nunca conseguiriam aguentar tudo o que aguentei. Ele conhece-me, menos do que eu quero mas mais do que qualquer homem. E mesmo que de mim ele conheça melhor o meu corpo, o meu sorriso meio-falso eu fico feliz por, pelo menos, ele saber algo. Quem me dera ter a possibilidade de ver os dias a passarem junto dele mas os dias passam e vejo-o a ir e a voltar, a ir e a voltar, numa repetição louca, quase torturante mas saborosa como nenhuma.
Ele é tudo o que me disseram para deixar de lado na minha vida e eu sei que provavelmente não vamos ter futuro mas prefiro ter um presente agora, de vez em quando, do que um nada no eco do que poderia ter sido.
Eu sou a que ele ama, a que melhor lhe conhece o corpo e não há prazer, sexo, orgasmos, cama e beijos melhores do que quem nos conhece melhor que ninguém.
Sou a que ele guarda de lado mas que guarda para sempre, até ao dia que, sei lá, eu me canse ou que a vida nos canse de andarmos por aí, a nos entregarmos sem ele querer realmente desistir delas por mim. Até esse dia irei prometer-lhe, que serei a mulher que está por detrás do homem que todas amam.

-MariaCunhaESilva

O Meu Grande Amor


Não foste o meu maior amor, maior em duração, maior em seriedade, maior em momentos e segundos passados lado-a-lado mas foste o meu maior amor em termos de sentimento, de amar só porque sim. E por isso, foste o meu maior amor de sempre.
Amei-te sem explicação.
Ainda amo, enfim.
Há quem diga que o maior amor da vida aparece quando ninguém mostrou o que era amar. Na vida passaram à minha frente tantas relações que poderia ter tido, que poderia ter feito durar mas não quis, não quis viver numa mentira por isso, seja qual for a razão deste sentimento, ele não é solidão.
Eu já conheci o amor da minha a vida. É o amor que me fez ter sentido quando nasci, sou quem sou para amar quem ele é mas mesmo assim ele já aqui não está. Não ficou por opção e eu nem lutei por estadias, eu queria que ele fosse feliz mesmo que fosse longe de mim.
O meu maior amor é aquele que me mostrou o chão mais vezes que o céu e mesmo que me chamem de burra por o rotular assim, eu não acredito que tenha a culpa porque eu sinto o que sinto e não escolho as emoções que me atacam.
Não foste aquele que me apresentou o sexo, que me levou a conhecer os pais, que me levou aos almoços de família, que viajou comigo aos fins de semana, que me fez conhecer os orgasmos repetidos mas foste aquele que me apresentou àquilo que é amar.
É verdade que me entreguei a outros, nunca te escondi isso, tentei sentir o que sinto por ti mas o meu corpo não deixa, a minha alma arranha-se e eu desisto de tentar reencarnar-te noutras pessoas. Desisto porque eu sei, mesmo que me custe a acreditar, que já vivi o amor da minha vida.
Há quem tenha a sorte de ter o amor da vida na altura em que se constrói uma família e mesmo que ele desista da relação, conseguem acolher uma parte do para-sempre nos braços e na barriga, num bebe que tem a cor dos olhos de quem amam. Eu tive o meu grande amor cedo demais, tenho só a possibilidade de guarda-lo em camisolas velhas que com o tempo perdem o perfume e o cheiro até do detergente.
Já conheci tanta gente, a minha língua já tocou em peles mais suaves, os meus olhos já viram paisagens mais bonitas, já tiveram a sorte de verem alguém a amar-me mas nunca nada consegue ser recíproco ou suficientemente bom para se aguentar durante muito tempo. Eu, que nunca quis desistir de ti apesar de tudo, desisto dos outros.
Amo-te sem explicação.
Quem me dera ter a sorte de entender onde fui buscar o sentimento e o pensamento que ninguém é igual ao que nós fomos pois já percorri tanto caminho que me podia levar para tão mais longe mas nunca consigo aceita-lo, nunca quero imaginar e caminhar numa estrada definitiva para algum lado onde não estás.
Amo sem qualquer fundamento, sem sequer ter sido a princesa a teu lado como devia ter sido porque mereci.
Foste o amor da minha vida, tão cedo, tão simples mas tão forte, sem explicações. Carrego-te na vergonha de saber que nunca conseguirei dizer que 'sim' na igreja sem pensar em ti. Levo-te no peito que outros já tentaram sarar mas que são expulsos por ser o teu lugar.
Há amores que têm explicação mas o amor da nossa vida nunca irá conseguir formular uma justificação para o sentimento. O amor que é amor não tem sentido, é porque é, sente-se porque se sente, ama-se porque se ama. E eu amo-te, depois de tudo, depois das quedas, depois dos outros, depois das falhas. Amo-te como se nunca tivesse conhecido outros homens, outras bocas, outros céus e não conheci, não como tu e se não é como tu não vale a pena. Amo-te.

-MariaCunhaESilva


 
 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

O único que deixei


Perdoa-me a infantilidade que não me deixou saber o que era amor.
Só hoje, passados não sei quantos anos, é que sei o que é uma relação.
Era demasiado nova para ti, estavas preparado para uma vida que eu só agora é que desejo.
Não digo que não te amei porque amei mas não o suficiente para correr o mundo inteiro só para estar encaixada no teu peito.
De ti, não guardo nada mais do que memórias bonitas e calmas, sem discussões.
Acredito que se tivesse escolhido ficar a teu lado teria sofrido menos, seria mais mulher mas mais igual aos outros todos que habitam este planeta.
Sempre achei que a vida me iria dar algo mais e foi por isso que te deixei, porque não me bastava o ameno, o lugar certo e o momento certo.
Quando te conheci a coisa que mais queria era errar, errar contigo mas as regras que estavam incutidas em ti não te deixavam. Às vezes, tenho saudades dessas partes tuas mesmo que na altura não as aceitasse.
Desde que sai pela porta fora do nosso relacionamento, conheci um mundo feroz, os nossos amigos acabaram por vivar apenas teus, o mundo julgou-me pela minha sinceridade e cai em buracos tão escuros que pareciam não ter saída.
Eras o homem certo para mim mas eu era apenas uma menina.
Ofereci-te o meu corpo, a minha pele nua e os meus lábios quase virgens. Acredita que ainda me lembro de todos os lugares onde me tocaste e que nunca houve alguém que me tocasse de igual maneira.
Tinha a vida toda feita se tivesse escolhido continuar, sei que me iria casar contigo, ter dois filhos e ma casa pequenina com um cão a correr pelo jardim. Agora até pode ser suficiente para mim mas antes, na minha plena juventude, eu queria mais.
Perdoa-me porque não sabia o que era a vida. És o meu amor mais calado, guardo para mim todas as memórias que tivemos, foram tão poucas que não quero que elas se gastem de língua em língua.
Às vezes, questiono-me se ainda tens memórias nossas pois mesmo que tenha sido eu a deixar-te parece-me que tu deixaste os nossos momentos esvaírem-se primeiro.
Não fui a pessoa que te melhor amou e é apenas por isso que eu tento não me culpar diariamente, acredito e repito na minha cabeça que os lábios que te beijam devem, com toda a certeza, beijar-te com mais amor.
Há noites que nem sei se não te quis amar mais e se os defeitos não eram apenas da minha cabeça.
Antes, acreditava que o amor era brigas que acabavam em beijos, que era uma tabela de altos em baixos e tu oferecias-me brigas que acabavam em concordância, olhava para a nossa tabela e havia uma linha a morar no meio, não havia altos nem baixos mas sim um intermédio que não era impossível conviver comigo.
A bem ou a mal, acredito que a minha vida não era, nem é, para ser vivida a teu lado, sem ti conheci um mundo que estava escondido.
Perdoa-me a sinceridade brusca.
Quando, depois de ti, me deixaram eu sempre pensei que era a vida a castigar-me pelo que te tinha feito.
Quis sempre perguntar-te como estavas mas nunca tive a coragem de me reaproximar pelo medo de te poder magoar de novo, então saí da tua vida como se nunca quisesse fazer parte dela.
Há dias, ainda hoje, que me questiono quanto te doeu a minha despedida pois magoou-me o meu egoísmo quando me despedi de ti. A dor foi mútua por mais que não tivesse parecido.
A minha despedida não se torna num arrependimento porque uma parte de mim sabe que chegaste e chegarás mais longe sem mim e porque eu sei que nunca conseguiria ser totalmente feliz para te fazer feliz.
És o amor, o único que deixei.
Uma parte de mim estará sempre em dívida contigo, desde o por do sol de um dia de inverno quando me disseste que se tu me tivesses nunca me deixarias ir.
Cumpriste a tua promessa, não me deixaste ir mas eu fui sem a tua permissão.

-MariaCunhaESilva


terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Era feliz ali


Eu fui tão feliz, naquele canto ali, tão simples assim...
Deitava a cabeça nos teus ombros,
amparavas os meus tombos
e era feliz ali, assim...
com os meus cabelos na tua cara,
a amar mais do que imaginara.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
com os meus joelhos a tocarem as tuas ancas,
no nevoeiro das nossas verdades francas
e era feliz ali, assim...
com as tuas mãos na cintura,
a amar sem amargura.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
com a alma a sair-me do peito,
entada nas muralhas de um antigo reino
e era feliz ali, assim...
com as malas a roçar o chão,
a amar com todo o meu coação.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
no inverno dos finais de tarde às cinco em ponto,
do vento a cantar como um tonto
e era feliz ali, assim...
ao lado do meu-amor-melhor-amigo,
a amar numa eternidade contigo.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
com as mãos a tocarem-te o cabelo,
agarrar o meu peito com medo de perdê-lo
e era feliz ali, assim...
com as camisolas de lã que dão comichão,
a amar como fosse verão.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
tinha a eternidade nos ossos
pelos sentimentos que eram nossos
e era feliz ali, assim...
com o cheiro a calçada molhada,
a amar e a ser amada.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
no final de uma cidade,
húmida, triste e com idade
e era feliz ali, assim...
com os carros a passarem por nós,
a amar sempre mas mais nos momentos a sós.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
a beijar debaixo da chuva grossa,
ai, como a vida era nossa
e era feliz ali, assim...
com as tuas mãos frias debaixo da minha camisola,
a amar os teus dedos apaixonados pelo som da tua viola.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
a sentir o teu pescoço arrepiado
e os teus olhos de menino mal-amado
e era feliz ali, assim...
com os pés gelados,
a amar os nossos corações agarrados.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
sem pensar no que estava a fazer,
a viver para além de sobreviver
e era feliz ali, assim...
com o céu negro que não me assustava,
  a amar quem a cada dia ficava.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
com um sorriso do tamanho do mundo,
a viver uma hora como fosse um segundo
e era feliz ali, assim...
no meio de um sonho que podia ser pesadelo,
a amar a vida por vivê-lo.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
nas tardes frias mas calorosas,
que passaram de gélidas a amorosas
e era feliz ali, assim...
num lugar frio mas quente,
a amar quem o meu coração sente.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
a carregar a juventude,
a sentir demais como se fosse uma virtude
e era feliz ali, assim...
a ver o verde do teu olhar,
a amar apenas por amar.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
num lugar tão pequeno,
onde não havia 'o sentir' ameno
e era feliz ali, assim...
onde hoje continuamos a estar,
numa frase com uma conta de somar.

-MariaCunhaESilva


sábado, 7 de janeiro de 2017

Os teus conselhos

Lembro-me de como odiavas as pessoas,
como me contavas detalhes que eu não reparava.
Nunca fui boa a entender que há quem não valha a pena.
Recordo-me de como me falavas, como se tivesses a experiência de uma vida inteira às costas, podias não ter mas eu fingia que não sabia.
Eras o homem mais sábio do mundo, ouvia as tuas palavras como elas fossem a verdade absoluta.
Era tão burra mas tão feliz a teu lado.
Como mulher eu pouco valia mas como pessoa, uma pessoa que quer viver para sempre, eu estava em destaque.
Calava-me para te ouvir.
Tudo o que dizias mudava-me a cabeça, abria-me os olhos ou até os fechava.
Lembro-me de como dizias que eu era má a decidir os caminhos e as amizades.
Sempre pensei que do mau eu poderia chegar ao bom e depois ao excelente mas tu não acreditavas em fases, para ti o sucesso e o estrelato era atingível num só dia.
Na verdade, contigo e com os teus conselhos cheguei mais alto do que nunca mas também cai mais do que queria.
Nunca me falaste das quedas mas também nunca te imaginei esfolado pela vida, não sei se o erro foi meu por acreditar em ti ou teu por acreditares em mim e na possibilidade que era impossível, de eu ser como tu.
Nunca serei como tu, aliás, nunca consegui tornar-me no que tu querias que eu me tornasse, eu via-o nos teus olhos e sentia nas minhas veias a tristeza de tudo isso.
Não ser suficiente para quem se ama torna-nos insuficientes para nós mesmos.
Relembro-me de ti, com o teu queixo levantado e com a maior credibilidade do mundo, não te posso dizer que estavas sempre errado mas também não estavas sempre certo.
Eu apoiava-te, seguia para a esquerda se essa era a tua escolha mas mudava para a direita se tu também assim o fizesses.
O pior amor é o que nos tira a vida própria e eu queria tanto ser tua que tentava ser quem eu não era. Era tão tua e tão pouco minha.
Hoje,  estou diferente, cresci.
Passei de menina a quase-mulher se é que um dia eu consiga ser mesmo mulher.
No tempo vazio e nas quedas onde não me deste a mão eu ergui a minha bandeira.
Na falta de conselhos teus aprendi a ter opinião.
Amava-te tanto que tinha deixado de ser até menina.
Não era nada a não ser tua, culpa minha, eu sei.
Lembro-me das pessoas que não gostavas e que ironicamente se colocaram no meu caminho, elas ensinaram-me tanto sobre ti e sobre a vida.
Talvez não estivesses tão errado assim mas também não estavas tão certo como imaginava.
Algumas pessoas cortaram-me os pulmões com soluços secos, outras deram-me o mundo que eu recusei.
Não sei onde tu te baseavas na escolha de boas e más pessoas e nem imagino em que secção tu agora me colocas.
Quer tu digas, quer não, eu sou uma boa pessoa.
Hoje, vejo-te num barco naufragado à espera que alguém que socorra e a teu lado estão uns tantos que pertenciam à lista dos menos-bons e dos horríveis.
Dou-te alguma razão, alguns deles têm te vindo a destruir aos poucos e mesmo com aqueles que te querem acordar para a vida, tu não sais de um coma induzido que te faz estar na lista dos mais-ou-menos.
Tornaste-te em quem antes evitavas e quem antes te fazia virar para o outro lado da rua.
Tenho saudades de te ouvir devido aos teus olhos abertos em relação ao mundo.
Eu dava-te a mão e deixava-me ir.
Acreditava em ti da maneira que devia acreditar em mim.
Deixa-me triste ver-te um homem apagado, sem o nariz empinado e com experiências para contar.
Tornaste-te em apenas 'mais um'.
Lembro-me da tua voz a engrossar quando querias ver uma mudança em mim, lembro-me de como eu reagia aos teus incentivos.
Quem me dera ter esse poder em ti, fazer-te acordar da vida que levas e que agarras.
Há quem te ouve ainda hoje mas nunca ouvirão tão saborosamente as tuas palavras como eu as ouvias.
Eras o rei do universo e escolheste ser o príncipe de um reino de lata que está em ruína.
Em que dia fechaste os olhos?
Em que dia abri os meus?
Será que nunca conseguiremos ser os dois inteligentes juntos e com os olhos bem abertos enquanto andamos de mãos dadas?

-MariaCunhaESilva


sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Gritei

Gritei.
Amo-te tanto.
Amarei para sempre, todos sabem.
Sou ridícula porque todos sabem que hei-de morrer contigo no pensamento.
Talvez devesse manter-me calada mas não consegui.
Gritei.
Aos teus ouvidos ocos e surdos.
O amor são dos que querem entender e tu nem me querias ouvir.
Era a louca apaixonada que tu desejava que desaparecesse.
Perdoa-me a loucura mas amava.
Gritei.
Enquanto tu conhecias pessoas novas, pessoas que não sentem o amor como eu.
Parece que a pouca intensidade é suficiente para ti.
Tenho pena.
Gritei.
Talvez alguém me ouvisse, todos ouviam mas ninguém se importava.
O mundo é feito de sobreviventes e eu era uma desistente por amor.
Gritei.
Chorava enquanto a minha voz atravessava uma rouquidão crônica.
Estava doente por não poder beijar a cura.
O horizonte estava nítido para saborear com dor a tua despedida.
Gritei.
Queria respostas, há diversas maneiras de deixar alguém mas a pior é a sem razão.
Adormecia à procura de soluções quando nem sabia as perguntas.
Egoísta, nem um justificação mereci.
Gritei.
Pelas dores que atacavam o meu corpo.
Dói tanto não ser amado por quem se ama.
Dói tanto ver quem se ama numa felicidade que não nos acompanha.
Doía-me a inveja da vida que conseguias ter sem mim.
Gritei.
O mundo é um junção de ignorantes que não dão valor aos sentimentos.
Querias ser livre e eu dava-te todas as asas que quisesses mas mesmo assim foste e não voltaste.
A parte boa das despedidas é o regresso.
Gritei.
Lembro-me de ver lágrimas a escorrerem-te pela cara.
Conheci todos os pontos fracos para agora nem conviver contigo.
A bem ou a mal, sou a que melhor te conhece.
Vejo-te rodeado de vazio e tu antes eras tão cheio.
Gritei.
Quis acordar do pesadelo que afinal era a minha vida, quis acordar-te desse teu estado de coma que te fez desistir de nós mas nenhum de nós acordou, ficámos os dois imóveis a relembrar aquilo que já tínhamos sido.
Gritei.
Tive o mundo nas palmas das minhas mãos, olhava para ele e acreditava que tudo o que acontece tem uma razão mas quando nos separámos deixei essa lógica de lado e planeta que as minhas mãos agarravam caiu e quebrou-se eternamente.
Gritei.
As paredes soluçavam-me, a cidade fantasma estava cheia de ti em todos os cantos, apercebi-me que em todos os recantos daquela terra eu já tinha sido tua.
Não sabia começar uma vida de novo num local nosso.
Gritei.
Como se a minha vida tivesse acabado e acabou.
Fomos tão curtos que me custa, fomos tanto em tão pouco tempo que não passou de uma estupidez desistir.
Hoje em dia, há quem diga que nunca me viu tão feliz de novo e há quem diga que nunca serás capaz de amar assim outra vez.
Gritei.
Era tão tua que desistia dos outros antes de eles começarem.
Perdoa-me se os teus olhos não me encaram pelos meus erros, por me ter entregado na esperança que te esqueceria.
Eu odeio-me por me odiares por isso.
Gritei.
Com o mundo em geral, com todos aqueles que viviam comigo, que me amavam.
Gritei por culpa tua mas nunca gritei contigo.

-MariaCunhaESilva