terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Era feliz ali


Eu fui tão feliz, naquele canto ali, tão simples assim...
Deitava a cabeça nos teus ombros,
amparavas os meus tombos
e era feliz ali, assim...
com os meus cabelos na tua cara,
a amar mais do que imaginara.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
com os meus joelhos a tocarem as tuas ancas,
no nevoeiro das nossas verdades francas
e era feliz ali, assim...
com as tuas mãos na cintura,
a amar sem amargura.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
com a alma a sair-me do peito,
entada nas muralhas de um antigo reino
e era feliz ali, assim...
com as malas a roçar o chão,
a amar com todo o meu coação.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
no inverno dos finais de tarde às cinco em ponto,
do vento a cantar como um tonto
e era feliz ali, assim...
ao lado do meu-amor-melhor-amigo,
a amar numa eternidade contigo.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
com as mãos a tocarem-te o cabelo,
agarrar o meu peito com medo de perdê-lo
e era feliz ali, assim...
com as camisolas de lã que dão comichão,
a amar como fosse verão.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
tinha a eternidade nos ossos
pelos sentimentos que eram nossos
e era feliz ali, assim...
com o cheiro a calçada molhada,
a amar e a ser amada.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
no final de uma cidade,
húmida, triste e com idade
e era feliz ali, assim...
com os carros a passarem por nós,
a amar sempre mas mais nos momentos a sós.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
a beijar debaixo da chuva grossa,
ai, como a vida era nossa
e era feliz ali, assim...
com as tuas mãos frias debaixo da minha camisola,
a amar os teus dedos apaixonados pelo som da tua viola.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
a sentir o teu pescoço arrepiado
e os teus olhos de menino mal-amado
e era feliz ali, assim...
com os pés gelados,
a amar os nossos corações agarrados.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
sem pensar no que estava a fazer,
a viver para além de sobreviver
e era feliz ali, assim...
com o céu negro que não me assustava,
  a amar quem a cada dia ficava.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
com um sorriso do tamanho do mundo,
a viver uma hora como fosse um segundo
e era feliz ali, assim...
no meio de um sonho que podia ser pesadelo,
a amar a vida por vivê-lo.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
nas tardes frias mas calorosas,
que passaram de gélidas a amorosas
e era feliz ali, assim...
num lugar frio mas quente,
a amar quem o meu coração sente.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
a carregar a juventude,
a sentir demais como se fosse uma virtude
e era feliz ali, assim...
a ver o verde do teu olhar,
a amar apenas por amar.

Eu fui tão feliz, naquele canto ali,
tão simples assim...
num lugar tão pequeno,
onde não havia 'o sentir' ameno
e era feliz ali, assim...
onde hoje continuamos a estar,
numa frase com uma conta de somar.

-MariaCunhaESilva


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