Escrevo e amo sem pensar e ainda estou à espera que a vida me diga se é um defeito ou uma qualidade.
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
Os amores da minha adolescência
Os anos passam e eu não sei demitir-me do cargo de "namorada". Como deixar de lado uma vida que um dia se uniu à minha?
Aos quinze foi a primeira vez que me apaixonei e acredito que ainda hoje amo quem me pertenceu de uma maneira bonita e virgem. Na mesma idade, o meu coração foi invadido por um sentimento de carinho, estabilidade e amor e ainda hoje amo quem um dia me fez pertencer a uma realidade que não estava pronta para a confusão da minha alma e cabeça. Por um fui deixada e o outro deixei, ambas as situações foram infantis mas a minha juventude não me perdoava e a quem eu amava também não. Aos quinze provei o sabor de amar, de deixar de amar e de amar de novo, tudo num só ano. Dizem-me que nessa altura não era amor mas raios partam que eu hoje sou uma suposta adulta e ainda consigo sentir nos meus lábios o vazio de os ter perdido. Quem me dera poder voltar ao tempo e dizer-lhes que não sabíamos nada da vida e que tudo era demasiado precipitado e confuso, quem me dera poder tocar com a minha língua naquela juventude e liberdade de ser de alguém pela primeira vez. Eu digo "pertencer a alguém" mas refiro-me de uma maneira saudável mas poética, vivi a minha adolescência a ser minha e a partilhar a minha existência com alguém sem sufocos e engasgos.
O tempo fala pelos ponteiros do relógio mas o coração continua frágil como da primeira vez.
Há quem diga que se aprende com as quedas mas a minha alma está viciada em quedas, e eu que as aguente.
Aos dezasseis, provei o amor real no amor que tinha sido um amor pequenino. Não há sentimento melhor do que voltar a casa e acho que é isso que se sente quando se volta a abraçar o nosso primeiro amor. Senti que o mundo estava a meu favor e que merecia a paz que tinha recebido. Não há palavras existentes para explicar o sentimento de ver o nosso amor a chegar de novo mesmo que venha mais crescido, com outras histórias e com os lábios a saber a aventuras. Nessa idade, vivi o meu para sempre sem pensar que tudo realmente acaba. Num certo dia, o meu mundo caiu, perdi o amor que pensava ser eterno e vi toda a minha existência a perder o sentido. Eu sei que drama se encaixa na minha personalidade mas eu não sabia realmente por onde começar pois por onde quer que eu quisesse tomar rumo, notava que havia um buraco naquilo que era. Os meus queridos dezasseis foram o receber o mundo e perder o universo e sinceramente, mesmo que na altura não tenha percebido, certas perdas foram culpa minha. Com essa idade, aprendi a levantar-me depois de quedas constantes, aprendi que quem um dia nos amou pode e deve seguir a vida que deseja mesmo que a mesma não nos inclua. Aprendi que corpos não calam a mente pois quem nos toca tem melhor sabor se houver sentimento. As pessoas diziam que tudo ia passar mas ainda hoje, com o tempo que passou, ainda há cicatrizes que tenho de curar mas, agora, dou tempo ao tempo e espero que o mesmo cure e traga tudo aquilo que desejo. No ano em que apaguei dezasseis velas cresci como mulher, deixei de ver o amor de uma forma tão suave e apercebi-me que aceitar regressos acaba por destruir aquilo que já foi vivido.
Aos dezassete vivi mais de mil fases. Aprendi a manter o amor que sentia calado pois não vale fazer juras de amor a quem não nos quer a seu lado. Apercebi-me da pessoa que era e voei sozinha, perdida mas com vontade de me encontrar de novo - e encontrei, talvez depois de muitos cigarros, bebidas e choros mas encontrei-me. E quando, finalmente, me encontrei acabei por encontrar outro alguém que docemente juntava os cacos da minha pessoa que eu tinha perdido. Nessa idade, encontrei o amor-amor, aquele que é tão cego e que me aceitou de todas as maneiras, contava-lhe as minhas angustias e ele acreditava que podia mudar o meu mundo - e mudou. Aos dezassete encaixei-me nos braços de alguém enquanto lhe gritava que não me conseguia salvar e aí, apaixonei-me quando já nem acreditava no amor. Entreguei-me cruamente, numa espécie de ultimato "amas-me por inteiro ou deixa-me" e ele nunca me deixou e eu nunca lhe menti sobre o que sentia. Com os dezassete às costas, apercebi-me que o amor que é amor é leve e não me pode me dar medo de ser deixada amanhã. Entendi que o que tinha vivido até então tinha me feito demostrar apenas a parte bonita de mim mas que estava na altura ser mais e de receber mais.
Aos dezoito já carregava três histórias, três amores mas apenas um estava na minha vida, o amor-amor. Tropecei várias vezes e apercebi-me que tinha vivido a amar os outros e a deixar-me andar por aí. Completei pela primeira vez mais de trezentos e sessenta dias ao lado da pessoa que amava e tudo isso me bateu no peito por me ter apercebido que aos quinze sentimos a primeira vez de tudo de uma maneira diferente. Com dezoito, aprendi que a rotina muda o sentimento por mais que se ame e que a esperança de mudanças naqueles que amam não tem fim. Aprendi que o corpo é necessário numa relação mais por egoísmo do que por outra coisa e que fazer planos deixam de ser suportáveis quando têm de ser diários. Com essa idade, provei o ritmo continuo das situações e a tristeza que é termos um passado que estará sempre agarrado à nossa pele. Provei, também, o sossego e a paz de não lutar para mostrar as minhas qualidades como é necessário na selva da sociedade que quer iniciar relações. Foi com essa idade que vi que estava a crescer e que tudo aquilo que fui e vivi nunca poderá ser repetido e por isso, aprendi que tem de lutar contra as rugas que o amor ganha. Aos dezoito, que ainda carrego, espero não crescer tanto assim e a aprender a amar de novo, como quando tinha quinze, antes da tragédia dos meus dezasseis, ao lado da pessoa dos meus dezassete.
-MariaCunhaESilva
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