sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Gritei

Gritei.
Amo-te tanto.
Amarei para sempre, todos sabem.
Sou ridícula porque todos sabem que hei-de morrer contigo no pensamento.
Talvez devesse manter-me calada mas não consegui.
Gritei.
Aos teus ouvidos ocos e surdos.
O amor são dos que querem entender e tu nem me querias ouvir.
Era a louca apaixonada que tu desejava que desaparecesse.
Perdoa-me a loucura mas amava.
Gritei.
Enquanto tu conhecias pessoas novas, pessoas que não sentem o amor como eu.
Parece que a pouca intensidade é suficiente para ti.
Tenho pena.
Gritei.
Talvez alguém me ouvisse, todos ouviam mas ninguém se importava.
O mundo é feito de sobreviventes e eu era uma desistente por amor.
Gritei.
Chorava enquanto a minha voz atravessava uma rouquidão crônica.
Estava doente por não poder beijar a cura.
O horizonte estava nítido para saborear com dor a tua despedida.
Gritei.
Queria respostas, há diversas maneiras de deixar alguém mas a pior é a sem razão.
Adormecia à procura de soluções quando nem sabia as perguntas.
Egoísta, nem um justificação mereci.
Gritei.
Pelas dores que atacavam o meu corpo.
Dói tanto não ser amado por quem se ama.
Dói tanto ver quem se ama numa felicidade que não nos acompanha.
Doía-me a inveja da vida que conseguias ter sem mim.
Gritei.
O mundo é um junção de ignorantes que não dão valor aos sentimentos.
Querias ser livre e eu dava-te todas as asas que quisesses mas mesmo assim foste e não voltaste.
A parte boa das despedidas é o regresso.
Gritei.
Lembro-me de ver lágrimas a escorrerem-te pela cara.
Conheci todos os pontos fracos para agora nem conviver contigo.
A bem ou a mal, sou a que melhor te conhece.
Vejo-te rodeado de vazio e tu antes eras tão cheio.
Gritei.
Quis acordar do pesadelo que afinal era a minha vida, quis acordar-te desse teu estado de coma que te fez desistir de nós mas nenhum de nós acordou, ficámos os dois imóveis a relembrar aquilo que já tínhamos sido.
Gritei.
Tive o mundo nas palmas das minhas mãos, olhava para ele e acreditava que tudo o que acontece tem uma razão mas quando nos separámos deixei essa lógica de lado e planeta que as minhas mãos agarravam caiu e quebrou-se eternamente.
Gritei.
As paredes soluçavam-me, a cidade fantasma estava cheia de ti em todos os cantos, apercebi-me que em todos os recantos daquela terra eu já tinha sido tua.
Não sabia começar uma vida de novo num local nosso.
Gritei.
Como se a minha vida tivesse acabado e acabou.
Fomos tão curtos que me custa, fomos tanto em tão pouco tempo que não passou de uma estupidez desistir.
Hoje em dia, há quem diga que nunca me viu tão feliz de novo e há quem diga que nunca serás capaz de amar assim outra vez.
Gritei.
Era tão tua que desistia dos outros antes de eles começarem.
Perdoa-me se os teus olhos não me encaram pelos meus erros, por me ter entregado na esperança que te esqueceria.
Eu odeio-me por me odiares por isso.
Gritei.
Com o mundo em geral, com todos aqueles que viviam comigo, que me amavam.
Gritei por culpa tua mas nunca gritei contigo.

-MariaCunhaESilva


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