sábado, 19 de dezembro de 2015

Virgindade


Estou mal com o meu pai.
E contigo também.
O meu pai explicou-me a importância do sexo.
Tu tiraste toda a sua importância.
O meu pai explicou-me os métodos contracetivos mais eficazes sem tabus mas quando tinha o coração partido por ti não me conseguiu oferecer nenhum método suficientemente bom para me acalmar.
Acho que a virgindade está superestimada.
Amei-te tanto antes de saber o teu corpo e ninguém me avisou dessa possibilidade.
O meu pai ficava preocupado nas noites que ia dormir contigo e nunca entendeu que as mais perigosas eram aquelas que passava ao telemóvel contigo a chorar para no final te desculpar.
Sempre me disseram para esperar antes de ter sexo com alguém.
Desde miúda que me dizem que o meu corpo nu deve pertencer a alguém que me ame muito e que eu ame também.
Nunca me contaram o perigo de me entregar de alma e de coração sem pensar.
Jamais me ensinaram que mais do que a lembrança da primeira noite a fazer amor existem todas as outras que ficam para a vida.
Todas as marcas no meu pescoço já desapareceram e todos arranhões nas tuas costas já não existem mas continuo com infinitos pedaços do meu coração ainda para juntar.
No corpo feminino entende-se quando alguém já não é virgem mas ninguém me avisou que eu ia passar dias a demostrar o quanto tinha sido marcada por um amor antigo.
Com o sexo marcaste o meu corpo de forma visível apenas para quem eu permita me ver nua mas a nível psicológico tatuaste o teu nome para todo o mundo ver.
Ao meu redor entendem que já amei demasiado quando não acredito num outro alguém que entra na minha vida, quando me sento num canto a escrever sobre corações partidos e olho para as estrelas a pedir não amar da mesma maneira como te amei.
Já beijei bocas desconhecidas e continuo viva sem marcas duradoras. Já mostrei o meu corpo para um alguém que não amava e isso pouco me dói.
Tinha livros em casa que me demostravam com imagens a importância do sexo e da escolha da primeira vez. Os meus pais fizeram com que eu lesse cada um deles mas nunca me mostraram um poema de Florbela Espanca e do quanto um amor arranha as paredes do nosso psicológico.
Estou mal contigo porque me marcaste para sempre e não falo a nível sexual.
Estou mal com o meu pai por não me ter dado conselhos e métodos para sobreviver a um primeiro amor.

-mm





Sem comentários:

Enviar um comentário