Ontem tínhamos combinado almoçar como fazemos desde sempre todas as terças feiras, pedi o teu arroz tal e qual como gostas, talvez... quem sabe te voltes a apaixonar pelos pequenos momentos que te preenchem e depois disso eu consiga fazer o mesmo mas tu não vieste. Recebi uma mensagem que dizia "Querida desculpa mas hoje não dá, falamos ao jantar. Sabes que te amo." não meu amor, não sei se me amas e já nem acredito se alguma vez amaste. Como é que chegámos a este ponto? Somos o típico casal que eu criticava quando tinha dezasseis anos e passeava de mão dada com o meu primeiro amor. Era a miúda que prometeu ao pai que jamais iria partilhar a casa com um homem que me amasse aos pouco e olha bem onde estou. Tornei-me no meu próprio alvo de crítica.
Não te sei abandonar e já nem é pelo amor que há em mim por ti pois ele já não existe mas já partilhamos tanto, já vivemos tanto e eu não posso simplesmente desistir assim. Acredito que vou fraquejar quando a vida me obrigar a começar um amor de novo, não sinto que estou preparada para tal. É muito mais fácil continuar uma história do que ir comprar um caderno e uma caneta e escrever tudo de novo. Talvez penses o mesmo e por isso é que vens adormecer ao meu lado ainda com o perfume dela na tua pele. Eu não te odeio porque já não te amo, a traição só custa para quem está de coração e eu já nem sinto o mesmo.
O que estamos a fazer? Os dias passam e continuamos a pagar os vinte e três porcento de juros, a ir ao café com os nossos amigos todas as quartas e jantar as sextas para que semana sim, semana não, irmos a casa dos teus pais. Tornaste-te monótono e eu casei-me com alguém que trazia flores às seis da manhã numa manhã de verão e elas cheiravam tão bem, tinham cores lindas. Agora já não existem e também não as quero vindas de ti. Não eram tão doentias ou escuras como o futuro que agora se avizinha para nós dois. Já nem discutimos. Já não grito e tu também já não bates com a porta do quarto. Há quem diga que estamos melhor mas eu preferia quando partíamos a louça toda para assim voltarmos para os braços um do outro com lágrimas ao canto do olho quando tu sempre me dizias "Desculpa-me, nunca quis isto para nós".
Sempre aceitei as tuas desculpas pois nunca pensei que te estavas a tornar num amor apagado, tu que nos meus olhos sempre brilhaste mais do que todos os outros. Acho que já nenhum de nós luta pelo que temos e então andamos arrastados pelo tempo, fazemos amor às quintas e aos sábados andamos de mão dada de manhã quando vais comprar o jornal e beber o teu café. Parecemos um bom casal, as minhas amigas sempre dizem que temos um relação fantástica, que nunca nos viram a discutir. Também nunca nos viram aos beijos ou com a tua mão na minha cintura. É triste, muito triste. Já não te beijo e te sussurro ao ouvido "Sou tão feliz contigo" porque não, não sou feliz e já nem sei se sou algo contigo... Já não sou aquela que um dia juraste amar para sempre. Nunca mais me amaste como nesse dia. Sou aquela que tanto como tu viu o amor a diminuir de dia para dia. Aquela que te escreve esta carta e te diz que já não valia a pena e por isso se foi embora. Espero que tu e ela sejam felizes juntos, ela pode ficar com o meu lado da cama pois ele também me faz muito feliz na cama que vamos partilhar sem lados planeados. Não me odeies por isto mas aquilo que tínhamos já não se podia chamar de amor e eu não aceito metade do que isso.
-mm
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