segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Como sempre


Eu sei que um dia nos vamos encontrar no meio de uma multidão apressada, vais-me olhar de alto a baixo e com os teus olhos fixos nos meus irás dizer-me surpreendido "não esperava encontrar-te aqui" como me quisesses dizer que ainda vês a adolescente que era por detrás da maquilhagem, da mala cheia de objetos inúteis e dos saltos altos. De seguida irei sorrir para ti e sem pensar muito irei responder-te com um "olá, então como andas?" seco e rude para que entendas que a menina ingénua e fraca que deixaste tornou-se numa mulher forte e de sucesso.
 Nesse dia tudo irá parar a nossa volta como no momento do nosso primeiro beijo e por segundos cada centímetro da tua pele vai relembrar-me de todas as noites em claro e de todo o bem que me fizeste, as tuas mãos vão parecer que pedem as minhas e na verdade vão mesmo faze-lo mas os anos que nos vão separar vão ser mais do que a possibilidade ou desejo de nos termos um ao outro.
"Queres beber um café? Não sei nada sobre a tua vida" vais dizer-me com a voz calma enquanto a barba me vai fazer recordar do quanto amei o puto que se queixava das borbulhas que lhe atacavam a face. Aceito o teu café e pelo caminho, passo a passo ambos acabamos por entender que temos de nos conformar com a distância que criámos um do outro quando partimos os nossos corações. Vou contar-te pequenas coisas e o teu olhar vai quase parar em cada gesto meu ou a cada gargalhada que irei dar a contar os tempos que bebia em festas sem pensar nas consequências e no meio do meu discurso elaborado questionas a verdadeira razão de teres ido embora, perguntas subtilmente se tenho ideia da imaturidade que foi a tua despedida e eu, com a alma a sorrir irei afirmar que é tarde demais e que tal como disseste não conheces nada da minha vida. Infelizmente ou felizmente. As minhas mãos vão tremer um pouco e o café vai estar mais amargo do que o habitual mas desculpa, não irei continuar um amor de adolescência na vida adulta e porque de todos os sentimentos do mundo que poderei ter por ti, amor não será um deles. O futuro não nos vai unir por mais que agora o deseje. Desculpa não desculpar-te mesmo que o tempo passe.
As nossas conversas vão ter indiretas sobre o quanto errado foi errar e estragar o que tínhamos. "A serio?" (deveria ter ficado). "Estás incrível!" (não deveria ter ido).
Vai chegar o final daquele encontro casual, "Eu pago o café como sempre fiz" e com essa tua frase irei dar uma gargalhada pequena e olhando-te nos olhos irei perguntar-te "Sabes que o tal como sempre que falas foi há dezasseis anos atrás, não sabes?" e tu com vultos de memórias a aparecerem-te na tua cabeça irás tocar na minha mão e como que num desabafo respondes "como poderia não saber?". Pagas o café, abres a porta e despeço-me de ti com um beijo na cara, dizes que tens de ir e eu de sorriso no rosto digo-te "como sempre".

-mm


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