quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Para ti, primeiro amor


Leve. Suavemente. E assim nos amámos. Virgens de corpo e alma. Jovens no coração e em pensamento. Poetas que não sabiam o significado de uma estrofe. Músicos que só ouviam música no YouTube.
Amei-te tanto. O passado foi todo nosso e guardo-te no lugar mais bonito que tenho em mim. As nossas memórias e a pessoa que ambos éramos são pedaços que vamos vendo em pequenos lugares na vida que agora levamos separados. Estou finalmente bem e ver-te bem faz com que esteja em paz com o mundo, aquele que nos separou mas que também nos uniu. A nossa intensidade valeu por todos os meses que nos faltaram. Durámos mais do que dois anos mesmo que só tenhamos estados juntos uns meses.
Daqui a uns quinze/vinte anos os meus filhos vão me perguntar questões onde o teu nome terá de ser a resposta e a tua eternidade está nisso mesmo. Serás aquele que estará ligado para sempre em mim, serás aquele que me irei lembrar quando a minha filha estiver a chorar com a cabeça nas minhas pernas mas também aquele que me virá sempre a cabeça quando a vir a arranjar-se para uma sexta-feira no cinema. Sou tão eterna quanto tu e por isso descanso, serei a resposta para as questões dos teus filhos. Não irei dizer o teu nome, a coragem não vai ser tanta mas prometo-te que me lembrarei das nossas caras de adolescentes quando andávamos de mãos dadas pelas ruas da cidade.
Fomos. Os. Eu A rapariga e tu O rapaz e não há qualquer destino que apague isso em nós. Já não há amor ou qualquer género de sentimento que nos faça valer a pena mas todas as recordações estão repletas de amor e de beijos a saberem a água do mar fazendo-me olhar para ti e tu para mim como se disséssemos "amo-te para sempre mesmo que o para sempre tenha acabado e mesmo que já ame outra pessoa".
Amaremos outros e os nossos corpos vão descobrir o verdadeiro significado de prazer e seriedade com outros alguém mas mesmo assim guardaremos o toque um do outro e o cheiro dos lençóis cheios de pó onde nos deitávamos.
Todas as noites onde não passámos de beijos como quaisquer miúdos. Todos os passeios na praia. Todas as brigas mínimas com resolução rápida. Todos cigarros divididos escondidos dos pais. Todos os passos gastos em passeios. Toda a gasolina gasta. Todas as mensagens e chamadas. Todos os segredos. Todas as primeiras vezes de algo. Todos os perfumes que fizemos com que se juntassem para criarmos a nossa própria essência.
Quem ama mais do que aqueles que não têm a mínima ideia da dor de um coração partido? E assim éramos nós, sentados em bancos de jardim e em muros onde discutíamos a matéria de português e se ambos tínhamos visto a briga na escola.
O tempo ensinou-nos a desculpar. As tuas ações e as minhas. Ambos errámos mesmo que em áreas e dimensões diferentes. Há demasiadas crostas em nós para voltarmos a ser o que éramos ou para termos conversas diárias. Às vezes pela a ironia das nossas escolhas lá nos esbarramos na rua e combinamos um café. Não te digo que mato saudades porque elas não existem mas mato algo em mim que não tem nome. O esqueleto do nosso amor às vezes parece que tem fome e assim, de tempos em tempos, alimentamo-lo.
Acredito que todos sejamos inesquecíveis mas tu serás sempre aquele que deu o nome a tudo. Que me ensinou a amar e a deixar de amar. Que me deu um coração para cuidar (o meu) depois de ter cuidado do teu. Que me beijou a testa e se despediu. Que foi o meu primeiro amor. E que será para sempre O. E eu a A.

-mm



 

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